Há exatos seis meses, o lançamento discreto de uma nova ferramenta mudou o mundo. O ChatGPT, modelo de inteligência artificial conversacional desenvolvido pela OpenAI baseado na arquitetura GPT, chegou em 30 de novembro de 2022. Desde então, muita coisa mudou — seja no próprio chatbot, no surgimento de concorrentes ou em como vemos a inteligência artificial.
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A partir do lançamento do ChatGPT, os olhos do mundo se voltaram para a inteligência artificial, seus benefícios, potencial, e também seus perigos. Para o especialista e influenciador André Cia, “um novo mundo foi criado” com a chegada da ferramenta.
Um novo mundo foi criado. Industrias milionárias que aportavam quantias inimagináveis, um mercado crescente, muitas vezes especulativos, não conseguiram o feito que a Inteligência Artificial, pela primeira vez acessível ao público, mostrou.
Arthur Igreja, especialista em tecnologia, destaca o impacto da IA no mundo com a chegada do ChatGPT. Segundo ele, as mudanças foram monumentais. Estamos vendo, basicamente, todas as empresas de tecnologia ou que utilizam tecnologia voltando a sua estratégia para inteligência artificial como algo absolutamente prioritário.
O que é muito interessante é ver que as pessoas estão descobrindo essas funcionalidades, estão customizando, pois não é algo padronizado. Justamente por ser inteligência artificial, ela vai se moldando, se adaptando, evoluindo. Dá para utilizar o ChatGPT para muitas atividades. As aplicações práticas são no atendimento, na construção não só de textos, mas de roteiros, de pesquisa. E entra no fator de quanto é fácil e amistoso.
Para exemplificar essa tendência, André Cia apresentou o gráfico acima, que compara termos pesquisados no Google nos últimos 12 meses. Nele, é possível ver a inteligência artificial sair de menos pesquisada quando comparada com termos como Metaverso e Criptomoedas, para o topo.
“Ao olhar o gráfico, vimos o mundo começar a encarar como uma curiosidade. Mas, diferentemente de outras áreas, como o Metaverso, essa nova tecnologia continua em uma crescente. Passando, inclusive, as pesquisas por Criptomoedas, em que novas notícias são postadas com frequência”, afirma André Cia. “Não falamos apenas de uma mudança de interesses com a expansão do ChatGPT e de outras Inteligências Artificiais. Falamos sobre mudanças de paradigmas, desafios, mercados”.
O ChatGPT é um modelo de linguagem desenvolvido pela OpenAI, baseado na arquitetura GPT-3.5. Ele é um sistema de inteligência artificial projetado para conversar e responder perguntas em linguagem natural.
O ChatGPT é treinado em uma ampla variedade de textos em português e tem a capacidade de gerar respostas coerentes e relevantes com base no contexto fornecido. Ele pode ajudar com uma variedade de tarefas, desde responder a perguntas e fornecer informações até ajudar na geração de texto, resolução de problemas e muito mais.
Apesar de não ter chegado há tanto tempo assim, o ChatGPT causou impacto imediato, como já mencionado. Isso gerou diversas polêmicas, e algumas ainda seguem vivas.
As discussões em torno das implicações futuras da inteligência artificial estão no centro destas discussões. Por exemplo, a carta aberta assinada por Elon Musk, que pedia uma pausa no desenvolvimento da IA para além do GPT-4, dados os riscos desta tecnologia.
Além disso, muito se fala sobre o futuro da inteligência artificial, com a possibilidade de pessoas perderam seus empregos ao serem substituídas pela máquina.
Uma implicação mais atual, que já causa muitos problemas, é o plágio. A chegada do ChatGPT se tornou um pesadelo para professores em todo o mundo, dada a dificuldade para identificar o que é um trabalho original, e o que foi feito pela IA. Discussões sobre direitos autorais e IA também estão em alta nos últimos seis meses.
Outra questão atual é a dificuldade de saber se o ChatGPT está dizendo algo que é realmente um fato, ou se o que ele falou foi inventado. E já há vítimas desse engano, como os advogados que citaram casos inexistentes mencionados e confirmados pelo ChatGPT. Vale ressaltar que existe um alerta na plataforma de que é possível serem criadas informações imprecisas sobre fatos, locais e pessoas.
Arthur Igreja refletiu sobre a questão, afirmando que as polêmicas são naturais e esperadas.
É uma tecnologia que toma decisões autônomas. Então, não se tem tanta supervisão e nem o controle. E, além disso, com centenas de milhões de pessoas usando, os problemas, as limitações, os dilemas, eles vão sendo evidenciados com muito mais velocidade. As pessoas levam as aplicações mais ao limite.
Apesar de ser uma novidade que apresenta diversas soluções para problemas do dia a dia de muitas pessoas, o ChatGPT está longe de ser perfeito, e enfrenta questionamentos importantes.
“A começar pelos direitos autorais e passando por todas as questões que a internet já vivenciou, como discurso de ódio, preconceito, toda essa questão”, comenta Arthur Igreja. “E tem um grande problema inerente à IA que é o aprendizado baseado nos pilares que são oferecidos. Muitas vezes, se essa base já vem com direcionamento, com viés, com preconceito, não vai ser a IA que vai eliminar isso”.
Todas essas questões éticas, aliadas ao mau uso da ferramenta para fins ilegais, leva à necessidade de regulação, como comenta André Cia. “Ela terá que vir por um conjunto de leis não de um único país, mas de todos, visto que sistemas não respeitam barreiras geográficas e este é, sem sombra de dúvidas, o maior problema para a regulamentação”.
No entanto, ele alerta que a regulação não será o suficiente para impedir que a IA seja usada para cometer crimes
Partindo do princípio que sempre haverá pessoas que agem à margem da lei, não acredito que um conjunto de regras de bom uso seria suficiente para barrá-las.
Além da questão de regulação, ainda estamos longe de saber usar o ChatGPT em todo o seu potencial. Afinal, apesar de ser resultado de anos de desenvolvimento e dedicação de pesquisadores, o chatbot ainda é uma novidade para o público geral.
O maior desafio é a ‘alfabetização’ em inteligência artificial. E isso é clássico em mudanças tecnológicas.
Como mencionado na fala de André Cia acima, é necessário educar as pessoas para o bom uso desse tipo de ferramenta. Ele ainda alerta sobre a forma como o ChatGPT é utilizado, como um assistente generalista. “A forma como usamos, perguntamos ou comandamos uma inteligência artificial foi feita para ser a mais simples possível, pequenos comandos trariam o resultado. Mas esses resultados não são melhores do que uma pessoa com o conhecimento básico daria”.
Bem programada, quando uma pessoa consegue entender e usar de princípios simples de comunicação, como Criação do Papel, Tarefa, Exemplo e Output, os resultados são espantosos. Poucas pessoas já aprenderam a fazer este tipo de programação. Com isso ganham mercado, produtividade, tempo e assertividade. A maioria das pessoas, infelizmente, tende a demorar a usar essa solução com eficácia, como foram antes com os computadores e depois com a internet. 
Arthur Igreja cita uma limitação bastante apontada por seus usuários: sua base de dados. “Ele tem limitação, por exemplo, ao acessar os dados só até 2021, que agora com as integrações com a Microsoft isso parece que vai ser mais bem equalizado”, diz ele.
Recentemente, o ChatGPT lançou uma opção com navegação web. O Olhar Digital testou o recurso que, apesar de interessante, ainda é bastante limitado.
Além disso, Igreja destaca que existem várias áreas do conhecimento que o ChatGPT não domina. Usuários também esperam soluções mais dinâmicas como, por exemplo, a geração de texto integrada com imagens.
A OpenAI sabe disso e está evoluindo muito em APIs, em integrações para que o ChatGPT não se torne algo unidimensional. Basta analisar o que aconteceu com o Google ao longo do tempo, se tornou gigante. O mesmo deve acontecer com o ChatGPT nos próximos tempos.
Por outro lado, André Cia citou a liberação de uso de plugins. Com eles, as limitações estão se tornando cada vez mais temporárias. Os plugins e a navegação web do ChatGPT ainda estão restritos a usuários do ChatGPT Plus.
Apesar das limitações citadas, André Cia enaltece o chatbot da OpenAI: “Como um usuário diário do ChatGPT, posso dizer que ele cumpre a função de centenas de assistentes especializados em áreas que eu preciso”.
Até o lançamento do ChatGPT, e posteriormente a isso, muito foi feito. A arquitetura em que se baseia o chatbot da OpenAI já existe há alguns anos e passou por diferentes evoluções até o ChatGPT mudar o mundo. Ele ganhou uma nova versão nesse ano, que gerou uma das polêmicas acima. Confira uma linha do tempo:
O futuro do ChatGPT é promissor, pois a tecnologia de linguagem natural está evoluindo rapidamente e aprimorando a capacidade de interação entre humanos e máquinas.
Muita coisa mudou no mundo da tecnologia nos últimos seis meses. Mas o que esperar do futuro? Arthur Igreja afirma que podemos esperar que o ChatGPT se torne mais sofisticado e capaz de compreender e responder uma variedade maior de perguntas e contextos.
Já André Cia diz esperar um chatbot mais personalizado e adaptável, que compreenda melhor as necessidades e preferências do usuário. “À medida que a tecnologia evolui, é possível que vejamos o ChatGPT sendo integrado a uma variedade de plataformas e dispositivos, oferecendo assistência virtual em tempo real em diferentes setores da sociedade”, diz ele.
Quando questionado sobre os próximo seis meses, Arthur Igreja diz que espera um “agravamento” da revolução causada nas big techs, com essas mudanças já sendo notadas atualmente.
O que quero dizer é que, de fato, as empresas que estão melhor utilizando não só o ChatGPT, mas toda essa geração de IA generativa, começarão a performar mais do que as outras. Terão resultados, impactos na bolsa de valores. O que espero é mais profundidade, mais velocidade, tudo mais daquilo que vimos nesses primeiro seis meses.
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Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.
Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.

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